domingo, 6 de setembro de 2015

Independência

Algumas pessoas estão chateadas porque esqueci de felicitá-las em seus aniversários.
Perdão, estou distraída com o tempo. Só sei que dia é hoje porque amanhã é feriado.
Feriado de quê, mesmo?
Ah, da independência.
Independência de quê, mesmo?

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

A ROSA-LILÁS E A FLOR COR DE ROSA

"Tenho uma doença: 'vejo a linguagem'" (Roland Barthes)

Ser viajante é observar os outros olhares do mundo refletidos no perfume das flores, na forma das casas, no sabor dos cafés, nos idiomas e conversas infindáveis.
Não ter uma câmera fotográfica é encontrar o papel. É bom também. Não tem como fotografar a sensação de velocidade extasiante ao descer uma escada rolante que sobe. Ou o esquentar do amargo café no corpo perfumado pela doce flor Rosa-Lilás que encontrei no jardim da Casa das Rosas. A flor não era rosa. A rosa era lilás.
Eu estava tão bem na foto, tomando meu café com cigarro orgânico, mas o indivíduo só viu beleza em seu selfie. Tudo bem, não o conheço mesmo.
As palavras me confundem. Às vezes esqueço se admiração é com i depois do d ou não. Mas a admiração não se confunde: só alcança o que é certo de acordo com myself.
É alegria poder sentar embaixo de uma árvore na Av. Paulista e saber que estou recebendo um pouco de oxigênio dessa princesa parada que abriga pássaros cantadores disputando a atenção dos tímpanos em meio a freios, portas abrindo e fechando, rádios com músicas estrangeiras passageiras. As árvores e os pássaros ficam.
Eu sigo me transformando como as xícaras que tintilam no bar, às vezes cheias de café, às vezes com água e sabão, às vezes com pano, às vezes com mão.
A maquinização e padronização do ser humano não consegue impedir o sol de ultrapassar as nuvens espessas de chuva e poeira para esquentar o meu rosto anestesiado pela fria brisa de inverno. De onde vem esse vento que me imobiliza enquanto faz dançar sedutoramente e animadamente as bandeiras?
Escrever é buscar palavras e ideias que estão condensadas no íntimo. É descobrir a raiz do próprio fio de cabelo.
"Recorre frequentemente a uma espécie de filosofia, vagamente intitulada 'pluralismo'. Quem sabe se essa insistência no plural não será uma forma de negar a dualidade sexual? Não se deve permitir que a oposição dos sexos seja uma lei da Natureza; e portanto necessário dissolver os afrontamentos e os paradigmas, pluralizar ao mesmo tempo os sentidos e os sexos: o sentido caminhará para a sua multiplicação, a sua dispersão (na teoria do texto), e o sexo não ficará preso a nenhuma tipologia (não haverá, por exemplo, senão 'várias homossexualidades' (...)" (Roland Barthes).


A chuva encheu de diamantes essa flor-porco-espinho-cor-de-rosa que mora perto da Av. Paulista.