terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

DÉJÀ VU

Eu pensei que iria morrer. Aliás, ali, eu já estava morta: era somente uma partícula pulsante pulante no meio de um mundaréu de gente.
E se todas as pessoas do mundo saíssem de suas casas para se espremer em uma estreita rua ao lado do mar, seguindo um único automóvel, um pequenino caminhão com caixas que reproduzem o som a uma certa distância, distância que propaga este som em ecos? Não mais nem conseguia ouvir o caminhão, vulgo trio elétrico: um déjà vu de músicas escutadas em carnavais passados e cantadas pelas pessoas que pulavam, pulavam, pulavam.
Meus pés: eu não conseguia compreender em que momento da vida eu me desconectei deles para sobreviver. Não mais doíam, pois praticamente eu não mais os tocava no chão. Nem força eu fazia: deixava meu corpo ser levado por corpos fortes e altos, muito maiores e mais pesados que eu, eu que era um nada, um ser que não iria desaparecer do mundo, afinal, que mundo? O mundo não existia, só havia uma música ecoada nos refrões repetidos e pés saltitantes que se esmagavam mutuamente. 
"Play som, play som, já viu é déjà vu", parecia estar lá longe trovejando Marco Antônio, em Júlio César de Sheakespeare, mas não: era só mais um carnaval em Salvador, Bahia, Brasil.



(Escrito em 31/1/2016, após o "Furdunço" com Baiana System de Ondina à Barra).

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