Naquele domingo de abril, a Banda Fulô de Mandacaru deve ter
ido dormir triste. Por um natural equívoco de quem não foi devidamente e anteriormente
esclarecida (uma cantora poetiza e inteligente como Daniela Mercury não
cometeria tal erro por mera distração), Daniela Mercury, a mais nova juíza do
programa de olimpíada musical, votou “não”, quando queria votar “sim”. Naquele
momento, a direção do programa não soube como agir. Se tivesse uma orientação
jurídica de plantão, teria sido alertada de que, conforme os artigos 110 e 112
do Código Civil, quando o destinatário tiver conhecimento da vontade do autor
(o que era nítido, diante da alegrNaquele domingo de abril, a Banda Fulô de Mandacaru deve ter
ido dormir triste. Por um natural equívoco de quem não foi devidamente e anteriormente
esclarecida (uma cantora poetiza e inteligente como Daniela Mercury não
cometeria tal erro por mera distração), Daniela Mercury, a mais nova juíza do
programa de olimpíada musical, votou “não”, quando queria votar “sim”. Naquele
momento, a direção do programa não soube como agir. Se tivesse uma orientação
jurídica de plantão, teria sido alertada de que, conforme os artigos 110 e 112
do Código Civil, quando o destinatário tiver conhecimento da vontade do autor
(o que era nítido, diante da alegria de Daniela Mercury ao ouvi-los tocar),
subsiste a “intenção nelas consubstanciada”, não o sentido literal da
linguagem. No dia seguinte, felizmente, a emissora resolveu colocar a Banda de
volta à competição, corrigindo seu erro.
O mais interessante dessa história toda foi a naturalidade
com que o cantor da Banda nordestina recebeu a notícia, agradecendo a
oportunidade, despedindo-se tranquilamente. Eu teria chorado na hora, e com uma
voz engasgada gritaria: isso é injuuusto! Mas, ele não: agradeceu. Quase que
dizendo em outras palavras: para quem é do “sertão das mulé séria, dos homi
trabaiadô”, a dificuldade para vencer faz parte. Só que, como diz o saudoso Sr.
Batista (cearense que foi trabalhar no Rio de Janeiro como garçom de um
restaurante de frutos do mar no bairro da Ilha, voltou para o Ceará para
arrumar uma mulher e casar, voltando junto com ela para o Rio, onde tiveram seu
filho, que agora cursa Nutrição em uma faculdade, e todos têm saudade de lá do
Ceará): “se os nordestinos voltassem para suas terras-natal, isso aqui fechava
tudo. Os prédios não teriam porteiros, os restaurantes não teriam garçons.” Mas
aquela Banda quer ser artista. “E pode?”, perguntam eles aos jurados, sabendo
que, independentemente da resposta, eles irão tocar no São João de Caruaru, que
nada tem a ver com a caricaturada Feira de São Cristóvão na Cidade Maravilhosa.
Os integrantes da Banda são responsáveis por transmitir uma tradição e estão
cumprindo sua missão.
Para que juízes, então? Para que sermos representados no Congresso
Nacional por pessoas que não respeitam o avanço do conhecimento da humanidade?
Será que no momento que esse texto for lido, terá acontecido um impeachment no
Brasil? Será que os deputados-juízes trocarão seus votos, acidentalmente ou
não? Que tradição jurídica está sendo valorizada?
Medo é uma criação da mente humana.
Teoria do caos.
ia de Daniela Mercury ao ouvi-los tocar),
subsiste a “intenção nelas consubstanciada”, não o sentido literal da
linguagem. No dia seguinte, felizmente, a emissora resolveu colocar a Banda de
volta à competição, corrigindo seu erro.
O mais interessante dessa história toda foi a naturalidade
com que o cantor da Banda nordestina recebeu a notícia, agradecendo a
oportunidade, despedindo-se tranquilamente. Eu teria chorado na hora, e com uma
voz engasgada gritaria: isso é injuuusto! Mas, ele não: agradeceu. Quase que
dizendo em outras palavras: para quem é do “sertão das mulé séria, dos homi
trabaiadô”, a dificuldade para vencer faz parte. Só que, como diz o saudoso Sr.
Batista (cearense que foi trabalhar no Rio de Janeiro como garçom de um
restaurante de frutos do mar no bairro da Ilha, voltou para o Ceará para
arrumar uma mulher e casar, voltando junto com ela para o Rio, onde tiveram seu
filho, que agora cursa Nutrição em uma faculdade, e todos têm saudade de lá do
Ceará): “se os nordestinos voltassem para suas terras-natal, isso aqui fechava
tudo. Os prédios não teriam porteiros, os restaurantes não teriam garçons.” Mas
aquela Banda quer ser artista. “E pode?”, perguntam eles aos jurados, sabendo
que, independentemente da resposta, eles irão tocar no São João de Caruaru, que
nada tem a ver com a caricaturada Feira de São Cristóvão na Cidade Maravilhosa.
Os integrantes da Banda são responsáveis por transmitir uma tradição e estão
cumprindo sua missão.
Para que juízes, então? Para que sermos representados no Congresso
Nacional por pessoas que não respeitam o avanço do conhecimento da humanidade?
Será que no momento que esse texto for lido, terá acontecido um impeachment no
Brasil? Será que os deputados-juízes trocarão seus votos, acidentalmente ou
não? Que tradição jurídica está sendo valorizada?
Medo é uma criação da mente humana.
Teoria do caos.
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