domingo, 8 de maio de 2016

O CONTROLE SOCIAL E O GOLPE: O QUE É PIOR?



A vida é feita de escolhas, toda escolha gera uma perda, não dá para ser tudo ao mesmo tempo, não é possível enganar a todos todo o tempo, pois as escolhas se revelam. Essas premissas já foram ditas e repetidas, são de domínio público. Embora alguns finjam esquecer, a vida se encarrega de lembrá-las algum dia. Então, vem o controle social sobre as escolhas alheias. Se antes as vizinhas ficavam na janela, ou colocavam uma cadeira na porta para observar o movimento, agora, de dentro de suas casas, é só “gulgar” para encontrar, através de signos sociais (nome completo, CPF, estado civil, residência etc) qual a personagem que vem sendo revelada através de campanhas publicitárias, feitas individualmente, com ferramentas virtuais (publicações com textos, vídeos e fotografias), ou através de profissionais contratados para orientar quais as escolhas devem serem mostradas, a fim de guiar a opinião social sobre a vida de alguém. A preocupação é “o que vão pensar”. Mas não adianta criar um virtual para substituir um real, pois ninguém foge de si mesmo, ninguém foge.
Por mais que se associe a coca-cola a cenas de alegria familiar, pessoas viciadas nessa substância continuarão adoecendo. Mesmo que haja várias músicas incentivando o consumo exacerbado de álcool entre os adolescentes, algum dia eles irão perceber que precisarão moderar para poder sobreviver. Não importa o quanto de publicidade se gaste nas campanhas políticas: se cavar um pouquinho, todo mundo acaba encontrando quem patrocinou aquelas pessoas que se dizem representantes de um povo e o que esse financiador ganhou em troca.
Luiz Gonzaga, que era um “bom ouvidor”, já cantarolava que “todo mundo quer saber / O que é o xamego / Ninguém sabe se ele é branco / Se é mulato ou negro / Quem não sabe o que é xamego / Pede pra vovó / Que já tem setenta anos / E ainda quer xodó”. Todavia, as pessoas de setenta anos que sustentaram posturas libertárias na época da ditadura não contam histórias sobre um época de xamego. Falam sobre prisões, torturas, fugas para outros países ou Estados para poderem manifestar seus pensamentos, pensamentos estes contrários às molduras criadas pelos conservadores da época.
A questão paradigmática shakesperiana atual não é mais “ser ou não ser”, mas “mostrar ou não mostrar”. Escondo aqui para enganar ali para conseguir acolá e me safar do lado de lá. O que importa não mais é o mérito da questão, mas a atenção que se consegue a esta, por mais efêmera que seja. E então são criados padrões e cada um segue cegamente quem se associar ao padrão escolhido e que foi mais fácil se adaptar, quase como se a vida fosse uma configuração de uma página na internet com alguns modelos: selecionar o simples ou o mais personalizado é uma escolha de um rótulo previamente programado e que será mostrado para vários como sendo seu (embora o formato tenha sido projetado por outra pessoa). A maioria não quer “perder tempo” criando “seu próprio formato” livremente dos já apresentados. Quer curtidas em suas páginas! Compartilhamento de suas mentiras! (Mesmo sabendo ser mentiras, o ego infla com a conquista da atenção, da mesma forma que dói com singelas críticas, especialmente se relacionadas justamente ao número de “aprovadores” sociais).
O problema nem é esse. Pior do que a “preguiça de ser” é a sequencial limitação do Congresso Nacional ao poder de criação e liberdade das pessoas que não se enquadram nessas “configurações” por eles ofertadas. Pior é termos uma geração de exímios repetidores de imbecilidades, de controladores da vida alheia, de sádicos preocupados em tolher as tão difíceis liberdades criativas. “Mais pior ainda” é termos o investimento público destinado a doutrinas de moralidades, ao invés de pesquisas sobre como podemos extrair mais felicidade do mundo e de nossa limitada existência na atual forma corpórea.

Só nos resta ser o que somos e arcar com as consequências disto. Escolher lutar para poder escolher é já uma escolha. Afinal, o ladrão, quando não leva o sorriso, leva uma coisa a menos. 

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